As aulas começaram em fevereiro/05, e esse semestre as matérias seriam totalmente teóricas e, segundo os que já haviam passado por ele, extremamente cansativo. Mas não desanimei. Sabia que o pessoal reclamava muito e aproveitava pouco. Resolvi não prestar atenção ao falatório e me dedicar aos estudos, por mais cansativas que fossem as matérias. Mas, com o passar dos dias, senti uma dificuldade muito grande de acompanhar as aulas. A dor da sacroileíte estava ficando cada vez mais forte. Foi nessa época que a reumatologista disse que a fisioterapia já não adiantava mais. E aquele remédio para a dor, o sub-lingual, ajudava, mas me deixava completamente passiva. Como era um semestre em que não haveria laboratório nem aula prática e nem estágio em campo, solicitei à minha médica que atestasse minha incapacidade de freqüentar as aulas para que eu conseguisse a Assistência Domiciliar.
E assim fizemos. Dei entrada com o atestado na faculdade e os professores começaram a me mandar as matérias a serem estudadas, as referências bibliográficas e os trabalhos que eu deveria fazer ao longo do semestre para compor os pontos totais. Isso ajudou bastante, pois deitava, sentava e ficava em pé sempre que sentia necessidade. Podia estudar dentro dos momentos em que me sentia melhor para isso.
Em março/05 decidimos por nova colonoscopia. Fui fazer novamente o risco cirúrgico e tudo estava controlado. Marcamos o exame para o dia 02 de abril/05, mas dessa vez seria na clínica da minha médica. Ela estava toda equipada para o exame e já possuía também autorização para realizar o procedimento lá mesmo. O relatório:
“Preparo pré-endoscópico: picossulfato de sódio – 2 sachês. Medicação pré-endoscópica: Dormonid – Fentanil – Propofol com assistência do anestesista e monitorização cardio-respiratória. Medicação pós-endoscópica: Luftal Duração: 25 min Achados Endoscópicos: colonoscopia até o íleo terminal em boas condições de preparo. Reto apresentando mucosa granulosa, brilhante, com destruição da vascularização da submucosa, úlceras longitudinais e fibrose importante. Os segmentos colônicos encontram-se de conformação, elasticidade e calibre alterados: há áreas de mucosa destruídas, com úlceras convergentes (em pedra de calçamento), edema, encurtamento colônico e áreas de estenose parcial. A válvula íleo-cecal encontra-se estenosada parcialmente. A mucosa ileal está preservada. Realizada biópsias seriadas do ceco ao reto. Ausência de formações polipóides e tumores em todo o trajeto colônico e reto. Não foram identificados óstios diverticulares em cólon sigmóide bem como não há sinais diretos de espasticidade colônica neste segmento. Não foram observadas ectasias vasculares ou vasos de distribuição aberrante. Conclusão: doença de Crohn desde o ceco até o reto, com alterações inflamatórias importantes. Nível atingido: íleo terminal Polipectomia: não Complicação: não”
Esse exame foi o que teve um resultado pior. Na verdade, todos eles vêm piorando. Só ficava me perguntando como isso tudo ia acontecer quando não tivesse mais para onde nem como piorar.
O laudo das biópsias:
“Fragmentos irregulares de tecido do ceco, cólon direito, cólon transverso e reto. São semelhantes e mostram fragmentos de mucosa tipo colônica apresentando denso infiltrado inflamatório grânulo-mononuclear com formação de alguns microabcessos de cripta, alguns granulomas epitelióides não caseificantes, proliferação fibrovascular, congestão e edema. Há áreas de ulceração recobertas por exsudato fibrino-purulento, esboço de fissuras e alterações regenerativas do epitélio glandular. Ausência de microrganismos específicos, displasia ou malignidade. Conclusão: colite/retite crônicas com atividade acentuada, granulomatosa e ulcerativa (alterações compatíveis com doença de Crohn em atividade).”
Aqui, vou abrir um espaço para explicar melhor a colonoscopia. Achei umas fotos na internet muito boas e que mostram, didaticamente, tudo que o exame identifica e faz. Vejam:
Nessa imagem, o médico introduz o colonoscópio pelo ânus. Ele é flexível e consegue passar pelo intestino grosso todo: ânus, reto, sigmóide, cólon descendente, cólon tranverso, cólon ascendente, ceco e final do íleo (intestino delgado).

Aqui vemos a extremidade do colonoscópio, inserido no paciente. Nessa ponta vemos um orifício, onde há uma lâmpada, outro que tem a câmera, outro para a irrigação (ar/água) e outro para a saída de instrumentos .

Em maio/05, novo Trânsito Intestinal. O laudo:
“Estômago e duodeno aparentemente sem alterações. Trânsito do delgado processando-se sem obstáculos, em tempo normal. Alças jejunais e ileais proximais e médias de topografia, forma, contornos, calibre, relevo mucoso e elasticidade parietal normais. Alças do íleo distal e terminal mostrando segmentos com redução acentuada da elasticidade parietal e calibre, além de alteração do padrão mucoso, intercalando-se com porções de aspecto radiológico usual. Quadro radiológico compatível com processo inflamatório segmentar do íleo (Crohn?)”
De posse de todos esses exames, a fístula e o diagnóstico confirmado da sacroileíte, ficou claro que eu deveria começar o tratamento com o infliximab. Mas uma das restrições do uso desse medicamento é a tuberculose. E por isso, fiz radiografias do tórax (PA e perfil) e um exame laboratorial de Reação Intradérmica. Ambos deram negativos para Tuberculose. Por ser um medicamento com vários (e são vários mesmo!) efeitos colaterais, e com um índice de rejeição por volta de 60%, conforme dados pesquisados, minha médica teve esse cuidado de pedir todos esses exames. E mesmo assim, resolvemos arriscar. Entrei com os papéis na Secretaria de Saúde e fiquei aguardando o parecer.
Em meados de junho a secretaria da faculdade me ligou. Uma das professoras do colegiado conversou comigo e disse que a PUC havia alterado algumas regras da Assistência Domiciliar e que tudo já havia sido registrado e divulgado. A mudança é que eu ficaria obrigada a me submeter às provas finais do semestre. Eu deveria marcar com cada professor o dia e a hora para a realização de cada uma das provas. Entrei em desespero. Estava muito mal fisicamente para deslocar 6 vezes para a faculdade e as matérias que os professores me passaram não eram as mesmas das provas aplicadas aos alunos em sala. Estava acompanhando tudo através de colegas de sala e sabia que estava estudando coisas diferentes, para compor trabalhos de pesquisa. Resolvi pegar as datas das provas finais e comparecer para fazê-las junto com toda a turma. Mas, logo de cara, não consegui ir nas 3 primeiras. A dor era muito forte nesses dias. Resultado? Perdi o semestre. Fiquei muito, mas muito chateada mesmo. Se soubesse que seria assim, tinha trancado a matrícula. Gastei um dinheiro que praticamente não tinha, para ter que perder todo o semestre! Imaginem como meu estado emocional ficou... lembro muito bem dessa época. Foi um momento em que me senti fraca, derrotada, chorei por dias seguidos e mal saía do meu quarto.
O ano de 2005 foi o pior até então. Em todos os sentidos... Meu emocional ficou muito abalado em função de tudo que acontecia e desanimei geral. Só de relatar tudo isso aqui hoje, volto naquela época em pensamento e até arrepio. Não quero passar por tudo isso novamente...
Pergunta: Vocês acham que ainda tem como ficar pior?
E assim fizemos. Dei entrada com o atestado na faculdade e os professores começaram a me mandar as matérias a serem estudadas, as referências bibliográficas e os trabalhos que eu deveria fazer ao longo do semestre para compor os pontos totais. Isso ajudou bastante, pois deitava, sentava e ficava em pé sempre que sentia necessidade. Podia estudar dentro dos momentos em que me sentia melhor para isso.
Em março/05 decidimos por nova colonoscopia. Fui fazer novamente o risco cirúrgico e tudo estava controlado. Marcamos o exame para o dia 02 de abril/05, mas dessa vez seria na clínica da minha médica. Ela estava toda equipada para o exame e já possuía também autorização para realizar o procedimento lá mesmo. O relatório:
“Preparo pré-endoscópico: picossulfato de sódio – 2 sachês. Medicação pré-endoscópica: Dormonid – Fentanil – Propofol com assistência do anestesista e monitorização cardio-respiratória. Medicação pós-endoscópica: Luftal Duração: 25 min Achados Endoscópicos: colonoscopia até o íleo terminal em boas condições de preparo. Reto apresentando mucosa granulosa, brilhante, com destruição da vascularização da submucosa, úlceras longitudinais e fibrose importante. Os segmentos colônicos encontram-se de conformação, elasticidade e calibre alterados: há áreas de mucosa destruídas, com úlceras convergentes (em pedra de calçamento), edema, encurtamento colônico e áreas de estenose parcial. A válvula íleo-cecal encontra-se estenosada parcialmente. A mucosa ileal está preservada. Realizada biópsias seriadas do ceco ao reto. Ausência de formações polipóides e tumores em todo o trajeto colônico e reto. Não foram identificados óstios diverticulares em cólon sigmóide bem como não há sinais diretos de espasticidade colônica neste segmento. Não foram observadas ectasias vasculares ou vasos de distribuição aberrante. Conclusão: doença de Crohn desde o ceco até o reto, com alterações inflamatórias importantes. Nível atingido: íleo terminal Polipectomia: não Complicação: não”
Esse exame foi o que teve um resultado pior. Na verdade, todos eles vêm piorando. Só ficava me perguntando como isso tudo ia acontecer quando não tivesse mais para onde nem como piorar.
O laudo das biópsias:
“Fragmentos irregulares de tecido do ceco, cólon direito, cólon transverso e reto. São semelhantes e mostram fragmentos de mucosa tipo colônica apresentando denso infiltrado inflamatório grânulo-mononuclear com formação de alguns microabcessos de cripta, alguns granulomas epitelióides não caseificantes, proliferação fibrovascular, congestão e edema. Há áreas de ulceração recobertas por exsudato fibrino-purulento, esboço de fissuras e alterações regenerativas do epitélio glandular. Ausência de microrganismos específicos, displasia ou malignidade. Conclusão: colite/retite crônicas com atividade acentuada, granulomatosa e ulcerativa (alterações compatíveis com doença de Crohn em atividade).”
Aqui, vou abrir um espaço para explicar melhor a colonoscopia. Achei umas fotos na internet muito boas e que mostram, didaticamente, tudo que o exame identifica e faz. Vejam:


Aqui vemos a extremidade do colonoscópio, inserido no paciente. Nessa ponta vemos um orifício, onde há uma lâmpada, outro que tem a câmera, outro para a irrigação (ar/água) e outro para a saída de instrumentos .

E nesse último, a saída do intrumento que processa a retirada de material do intestino para a biópsia.
Em maio/05, novo Trânsito Intestinal. O laudo:
“Estômago e duodeno aparentemente sem alterações. Trânsito do delgado processando-se sem obstáculos, em tempo normal. Alças jejunais e ileais proximais e médias de topografia, forma, contornos, calibre, relevo mucoso e elasticidade parietal normais. Alças do íleo distal e terminal mostrando segmentos com redução acentuada da elasticidade parietal e calibre, além de alteração do padrão mucoso, intercalando-se com porções de aspecto radiológico usual. Quadro radiológico compatível com processo inflamatório segmentar do íleo (Crohn?)”
De posse de todos esses exames, a fístula e o diagnóstico confirmado da sacroileíte, ficou claro que eu deveria começar o tratamento com o infliximab. Mas uma das restrições do uso desse medicamento é a tuberculose. E por isso, fiz radiografias do tórax (PA e perfil) e um exame laboratorial de Reação Intradérmica. Ambos deram negativos para Tuberculose. Por ser um medicamento com vários (e são vários mesmo!) efeitos colaterais, e com um índice de rejeição por volta de 60%, conforme dados pesquisados, minha médica teve esse cuidado de pedir todos esses exames. E mesmo assim, resolvemos arriscar. Entrei com os papéis na Secretaria de Saúde e fiquei aguardando o parecer.
Em meados de junho a secretaria da faculdade me ligou. Uma das professoras do colegiado conversou comigo e disse que a PUC havia alterado algumas regras da Assistência Domiciliar e que tudo já havia sido registrado e divulgado. A mudança é que eu ficaria obrigada a me submeter às provas finais do semestre. Eu deveria marcar com cada professor o dia e a hora para a realização de cada uma das provas. Entrei em desespero. Estava muito mal fisicamente para deslocar 6 vezes para a faculdade e as matérias que os professores me passaram não eram as mesmas das provas aplicadas aos alunos em sala. Estava acompanhando tudo através de colegas de sala e sabia que estava estudando coisas diferentes, para compor trabalhos de pesquisa. Resolvi pegar as datas das provas finais e comparecer para fazê-las junto com toda a turma. Mas, logo de cara, não consegui ir nas 3 primeiras. A dor era muito forte nesses dias. Resultado? Perdi o semestre. Fiquei muito, mas muito chateada mesmo. Se soubesse que seria assim, tinha trancado a matrícula. Gastei um dinheiro que praticamente não tinha, para ter que perder todo o semestre! Imaginem como meu estado emocional ficou... lembro muito bem dessa época. Foi um momento em que me senti fraca, derrotada, chorei por dias seguidos e mal saía do meu quarto.

Pergunta: Vocês acham que ainda tem como ficar pior?