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terça-feira, 25 de março de 2008

15- Na dúvida, Serenidade!

Olá a todos!

Esse post é uma colaboração (a primeira de várias) do amigo Mark R. (Marcílio R. Domingues), portador de Doença de Crohn desde 1982, fotógrafo e escritor. Pedi a ele que me ajudasse sempre que possível, pois a correria da vida às vezes nos toma um pouco mais de tempo. Portanto, intercalando com meus depoimentos, vamos sempre esclarecer alguns pontos importantes, momento em que essa ajuda será fundamental. O texto, na íntegra, é dele. O que estiver em vermelho dentro de parênteses, são observações que achei pertinentes mencionar. Espero que aproveitem! Bjim...

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A doença de Crohn, como outras patologias auto-imunes que acometem o trato intestinal, tem suas peculiaridades, pois, o Crohn em si, já é bastante diferenciado. Portanto, vamos ao passos e sintomas que devem ser rigorosamente observados nos casos mais “urgentes”. Aqueles que são acometidos dessas afecções, em casos mais emergenciais, devem observar procedimentos simples para que a evolução em si, seja o menos traumatizante possível.

(Uma observação: urgência é uma situação grave onde não há risco de morte e emergência é qualquer situação grave onde há o risco de morte.)

Como identificar alguns sintomas que podem sinalizar uma recidiva? (retorno da atividade da doença)

  • Você acorda em um belo e ensolarado dia sentindo dores articulares que não estavam ali na noite anterior; o que se deve observar nesse caso? Um dos sinais, além da dor propriamente dita, você deve verificar alterações nos padrões de cor de algumas articulações e inchaço em outras.

    Exemplos: as articulações de suas mãos em sua porção proximal, que são aquelas primeiras e que se apresentam anormalmente avermelhadas (moderada ou intensamente); a articulação de seus joelhos pode apresentar inchaço, com ou sem dor. Esses são os mais comuns. Em geral quando isso ocorre, antes mesmo de outras alterações mais significativas, é possível que apresentemos, se for solicitado por seu médico, alguma alteração em prova reumática PCR (exame laboratial PCR - Proteína C Reativa) e outros; e não se impressionem, pois um grande número deles ainda não relaciona o achado ou não dá a devida importância.
  • Você percebe que após a refeição que, por mais leve que tenha sido, surge um quadro de desconforto ou mesmo de dor epigástrica; não, no caso dos Crohnistas, este sintoma não se relaciona com quadros cardíacos ou questões de trato intestinal superior, a menos claro, que você apresente a forma mais rara de Crohn, que é a doença alta, como em meu caso. Mas claro, se você já tem o diagnóstico, sabe com certeza a localização principal de sua doença.
  • Apresenta diarréia ou mesmo fezes aparentemente normais, mas com “muco e/ou presença de gordura”. A presença de muco é mais comum que quadros de esteatorréia (gordura nas fezes); emergência evacuatória acompanhada de dor, com ou sem a presença de fissuras peri-anais (ao redor do ânus).
  • Cansaço progressivo e inexplicável, acompanhado de significativo emagrecimento, que possivelmente é provocado por anemia secundária à atividade da doença e à síndrome desabsortiva, também muito característica, que leva a perda de proteínas e sais (sódio, potássio).

Como proceder?

  • A relação médico-paciente em doenças insidiosas como essa, nem sempre é muito gratificante. Portanto, tenha em mente que se conseguir encontrar algum especialista que lhe inspire confiança e tenha a necessária dedicação, mantenha-o o quanto possível.
  • Se precisar ir para uma emergência de um hospital público – e sei como é isso – procure centrar-se e ser o mais objetivo possível durante a anamnese (entrevista durante a consulta), que sempre se repetirá em todas as situações.
  • Relate a sintomatologia de forma breve, afirmando categoricamente o diagnóstico existente de Doença de Crohn ou RCU. Não permita, se tem conhecimento da doença que lhe acomete e dos sintomas acima descritos, que médicos de emergência fujam ao principal, que seja, medicar a sintomatologia principal. SEMPRE RELATE QUE TEM O DIAGNÓSTICO DE SUA DOENÇA.
  • Ao se encaminhar para uma emergência, seja ela pública ou particular, comunique ao seu médico imediatamente.
  • Há medicamentos de primeira hora que são indicados para aliviar dor e cólicas. Peça ao seu médico que os indique, pois, desse modo, você não será pseudo-medicado na suposição de algo que provavelmente o médico que está prestando o primeiro atendimento supõe ser o melhor. Acredite, ainda há médicos que não sabem identificar sintomatologias que indicam doenças como essas. ESTAS SÃO DOENÇAS MULTI-DISCIPLINARES, E SEMIÓTICA NÃO PARECE SER UMA CADEIRA MUITO CONCORRIDA. CARECEMOS TERRIVELMENTE DE PROFISSIONAIS COM CAPACIDADE DE DIFERENCIAR SINTOMATOLOGIAS E FAZER ASSOCIAÇÕES QUE INDIQUEM NO CONJUNTO, UM GRUPO MAIS RESTRITO DE PATOLOGIAS E, POR ISSO MESMO, ERRAM TANTO. NÃO PERMITA QUE ISSO OCORRA COM VOCÊ!
  • O que seria uma rotina inicial em uma emergência na suposição de que você, paciente, saiba do acima disposto:
    • Sangue: Hemograma Completo com Fosfatase Alcalina, PCR – são os basicões;
    • Imagem: Ultra Som de abdômen total, Rx simples, Ressonância Magnética e, se necessário, Tomografia Computadorizada.

Quando estamos adoentados tendemos a nos desmerecer, relaxar com a aparência, não sentir prazer com coisas como uma boa leitura, um bom filme, um bom papo. NÃO FAÇAM ISSO!

Se precisarem ficar de molho em um hospital, clinicamente ou cirurgicamente, tenham em mente que aquilo que projetamos se materializa em nós mesmos.

Há dados estatísticos que indicam que quando encaramos tais situações com leveza, a recuperação é muitíssimo mais rápida. Se for passar uma temporada no hospital leve sua colônia, sua melhor escova de cabelos, esforce-se para banhar-se diariamente e sozinho. Se possível, leia, distraia-se com filmes e noticiários e, se os caras de branco permitirem, caminhe e, se permitirem mais, caminhe pelos corredores, que a piada seja a doença e o momento que você está superando porque é mais forte que a dor que lhe acomete.

O PIOR LUGAR PARA UM DOENTE HOSPITALIZADO É A CAMA. PORTANTO, SE DER, PERMANEÇA O MENOR TEMPO POSSÍVEL NELA, FAÇA PIADA DA DOR, NÃO PERMITA QUE A DOR O TORNE A PIADA.

Com emergências ou sem elas, se a vida lhe der abacaxis, pepinos, bananas e outras frutas, faça uma deliciosa salada e farte-se de alegria e esperança.


Mark R.

Um comentário:

Engº Spencer Ferreira disse...

Olá! Leca.
Gostei muito dessa postagem!
Um dos meus segredos para conviver com a D. Crohn, nesses últimos 40 anos, foi fazendo exatamente como você disse:
"FAÇA PIADA DA DOR". Não se entreguem!
Êta segredim danado!
Bjim