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quarta-feira, 19 de março de 2008

13- Aprendendo a Crohn-viver (I)

Em abril/01, exatamente 1 ano após o diagnóstico de Doença de Crohn, voltei em consulta e relatei que desde fevereiro/01 minhas evacuações começaram a aumentar progressivamente, 10 vezes/dia, com cólicas e diarréia. Em janeiro/01 tive febre, mas foi um caso único.

Na inspeção foi visto que eu estava com secreção purulenta em uma fissura anal e o plicoma estava edemaciado (inchado). Ela viu também que pelo ânus, até 20 cm internamente, a mucosa estava toda irregular, com granulomas e úlceras (feridas), onde concluiu que o Crohn estava em atividade no cólon e perianal. Aumentou a sulfa para 3,0 g/dia, entramos com Metronidazol 250mg (antiinfeccioso), Omeprazol 20 mg/dia (proteger o estômago) e voltamos com o Laitan 12/12 horas.

Em maio/2001 as evacuações já tinham diminuído para 4 vezes ao dia e refiz os exames de urina e de sangue: hemograma, proteínas totais, albumina, Globulinas, Bilirrubina Total e Frações, TGO, TGP, Fosfatase Alcalina, T3 Total, T4 Total, TSH Basal. Vamos às alterações: um pouco de anemia e plaquetas elevadas, albumina no limite inferior (3,4 g/dl). Segundo minha médica, essas alterações estavam dentro do esperado, pelo quadro da doença e os medicamentos usados até então. Aumentei o consumo de feijão, couve e beterraba (cozida no feijão porque detesto beterraba... arghhh....) para a anemia e claras de ovos para aumentar a albumina.

Em outubro/01 refiz os exames para ver se houve melhora. A Proteína “C” Reativa estava alterada. O normal é abaixo de 6 mg/l e estava 48 mg/l, o que indica um processo inflamatório no organismo. A anemia sumiu e as plaquetas diminuíram bastante e estavam dentro do limite novamente. Foi então que mudamos minha conduta terapêutica. Com o nível alto dessa Proteína, desconfiamos de que a doença estava ativa. Providenciamos a marcação de uma colonoscopia e alteração nos medicamentos, que já estavam previstos de serem alterados mesmo:

· Azatioprina 50 mg – 12/12 horas (imunossupressor)

· Meticorten 20 mg – 1 comprimido pela manhã (antiinflamatório e imunossupressor)

· Metronidazol 400 mg – 12/12 horas

O medicamento Azatioprina não é barato. A Secretaria Estadual de Saúde (SES), aqui em Minas Gerais, distribuía gratuitamente aos pacientes que fizessem algum tipo de transplante. Minha médica sugeriu que eu tentasse, pois outros pacientes de Crohn já haviam conseguido. Hoje (2008) esse medicamento é distribuído aos pacientes de DII tranquilamente, a SES já protocolou esse procedimento.

Fui até a SES saber do que precisava para conseguir o medicamento. Tive que providenciar a receita, laudos de exames recentes, cópia de diversos documentos pessoais e relatório médico. Transcrição do relatório da minha médica para a SES:

“A paciente (...) é portadora de Doença de Crohn de delgado, cólon e perianal. Vem fazendo tratamento desde abril/00, já tendo perdido 25 kg no período, devido a diarréia. Não tolera a suspensão da medicação pois há recidiva dos sintomas. Inicio Azatioprina para melhor controle. CID K50.9 . 18.10.01 ."

De posse de tudo isso, enfrentei uma fila (enorme) para entregar os documentos. Fui orientada a ligar daí a 30 dias para saber se o processo havia sido aprovado e liberado. Liguei algumas vezes antes de receber a notícia que podia voltar lá em busca da Azatioprina. O sistema era muito falho naquele tempo. Uma fila para o funcionário procurar o envelope com o processo. Aguardar. Esperar ser chamado pelo nome. De posse do documento que aprovava a liberação, outra fila para pegar o remédio (gigante). Ficava, no mínimo, 4 horas no local. No fundo achava que valia a pena pois faria uma economia respeitável. Em pouco tempo começaria a entender melhor a situação.

Durante esse período de espera já estava em uso dos medicamentos, que comprei para não ter que esperar muito o começo do novo tratamento. Uns 15 dias após o início da Azatioprina aconteceu um fato totalmente inesperado. Pela manhã, ao acordar, senti um pouco de frio. Tomei um banho, fiz um lanche e me aprontei para ir ao trabalho que começava às 08:00h. Por volta de 7:30h, já dentro do ônibus, comecei a sentir muito frio e foi ficando cada vez mais insuportável. Meus joelhos batiam um no outro, nunca havia sentido isso antes. Minha boca estava seca e comecei a sentir medo. Liguei para meus pais do celular e contei o que estava acontecendo. Desci do ônibus na metade do caminho para o serviço e esperei meu pai ir me buscar.


Estava tão estranha que tive receio até de pegar um táxi. Comprei uma garrafa de água em uma lanchonete e sentei na calçada pois não conseguia ficar em pé. Após uns 15 minutos ele chegou e pedi que me levasse imediatamente ao hospital. Abro um espaço aqui para explicar que até 2 anos atrás, minha saúde era ótima. Nunca havia tido uma doença séria ou precisado de hospitalização, nem mesmo de consultas urgentes. Por isso meu medo com os sintomas.

No próximo post relatarei o que aconteceu, a ida ao hospital, os exames e o motivo desses sintomas... até lá!

Bjim...

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