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domingo, 31 de agosto de 2008

39- Ostomizada...

A confecção do estoma (colostomia)



Expliquei sobre a colostomia, mas alguns detalhes vocês não encontrarão em livro nenhum. Só a prática faz o entendimento nesse caso. Esses detalhes chegam a ser inclusive constrangedores, mas sinto necessidade desse relato e creio que para quem ainda não conhece direito sobre o assunto será muito bom ler isso. Aliás, é a função desse blog. A primeira coisa que gostaria de dizer é a questão da limpeza da bolsa.

Vejam... a bolsa possui uma placa adesiva com um buraco no meio. Algumas já vêem com o buraco cortado no tamanho certo do estoma e outras, você mesmo corta, que era o modelo da minha. E existem bolsas de uma só peça e de duas peças, que era o meu caso. A de uma peça, a placa e a bolsa são uma coisa só. A de duas peças, você cola a placa, depois encaixa a bolsa. Serve para você fazer uma higiene melhor, diariamente, e controlar para ver se está tudo bem, principalmente no início de uso, logo após a cirurgia.

http://www.bhj.org

Disseram no hospital que o normal é você sentar no vaso sanitário, abrir as pernas, abrir a bolsa e liberar o conteúdo para que caia dentro do vaso. Depois, algumas pessoas usam uma garrafa com água e vão colocando água dentro da bolsa pela abertura em que as fezes saíram, e vão lavando dessa maneira por dentro da bolsa até que a água saia limpa. Eu não podia fazer dessa forma. Não sou uma pessoa magra e essa posição não me favorecia. Minha médica havia me ensinado da seguinte forma: esvaziar a bolsa dentro de um recipiente que eu deixaria somente para aquele uso. Encheria a bolsa com a água, direto da torneira da pia e esvaziaria nesse recipiente. Faria isso até limpar bem a bolsa. Iria até o vaso, despejaria tudo lá e pronto. Lavava o recipiente e esperava para fazer tudo novamente.

E admito aqui que, por várias vezes fiz muita sujeira. Principalmente quando a bolsa enchia muito de gases e, quando abria, saia tudo de uma vez só pela pressão. Isso acontecia geralmente de madrugada, quando acordava com a bolsa quase “estourando”. Foram algumas madrugadas limpando banheiro... Fui me virando bem dessa forma, até o dia em que precisei sair e não sabia como agir em um banheiro público. Imaginem minha situação... Com o tempo fui me adaptando melhor e descobrindo formas de lidar com tudo isso, mas até chegar nesse ponto, sofri um pouco, e, prá ser sincera, ainda sofro. E agora falo de sofrimento físico, de dor. Hoje não uso mais o recipiente porque esvazio a bolsa diretamente no vaso sanitário. Mas para que as fezes não caiam e respinguem água para cima, necessito ajoelhar e jogar um pedaço de papel higiênico no vaso antes. E, ainda nessa posição, uso a ducha higiênica para lavar a bolsa e me molho algumas vezes. Mas essa posição é difícil por alguns motivos. Primeiro pelo esforço no abdômen e também porque de joelhos, não há orgulho que resista...

Meu intestino costuma, quando estou em dias normais, funcionar a partir das 16h. Digo “a partir” porque, como o estoma não possui um esfíncter (músculo que controla a saída das fezes pelo ânus), as fezes vão saindo aos poucos. E aí costumo evacuar, aos poucos, até por volta das 22h. Num belo dia atípico (estava chateada) estava eu na faculdade de manhã... Adivinhem? Meu intestino resolveu funcionar! E não foi aos poucos, foi de uma vez só. E diarréia pura. A bolsa pesava. Precisava esvaziá-la a qualquer custo. Mas os banheiros da faculdade são “indecentes” de sujos. Mal cabe uma pessoa dentro de cada box e vivem imundos, com as lixeiras transbordando de papel sujo e os vasos davam a impressão que não viam água há dias. Criei coragem, fui até a secretaria, e pedi para falar com a pessoa responsável por essa área. Mostrei minha bolsa por baixo da camisa, assumi (pela primeira vez) que era deficiente física e que precisava usar, com urgência, um banheiro diferenciado. Na mesma hora fui atendida e levada ao banheiro dos funcionários. Na semana seguinte construíram um box para deficientes físicos no banheiro do meu prédio, no primeiro andar.

Sim, o Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004 classifica os ostomizados como deficientes físicos. Mas até eu admitir isso demorou muito. Claro que tenho necessidades especiais e não posso fazer de tudo que fazia antes, mas daí a ser deficiente? Nesse dia, quando precisei usar dessa prerrogativa, resolvi que era melhor, prá mim mesma, assumir essa questão logo. Mas isso é uma outra história, que merece um capítulo à parte.

Voltando aos meus dias iniciais de ostomizada...

A primeira troca de bolsa que fiz, foi super tranqüila. Claro que fiquei nervosa e apreensiva, mas deu tudo certo. E a bolsa durou por 4 dias! A partir daí, não tive mais problemas quanto a isso. Preciso agora entrar em um novo relato...

Saí do hospital no dia 05 de abril, realizei essas trocas relatadas acima e saí de casa por 3 vezes: consultório da médica para revisão da cirurgia; hospital para a troca da bolsa; e enfermeira da Secretaria de Saúde onde distribuem as bolsas gratuitamente. Isso tudo entre os dias 05 e 20 de abril. No dia 19 foi o meu aniversário, não recebi muitas visitas, pois foi um desejo meu, e não precisei atender nenhum telefonema com a desculpa de que estava de repouso (nunca gostei do dia do meu aniversário).

No dia 21 de abril, feriado, fiquei lendo uma boa parte do dia, depois assisti TV. No final da tarde, quando levantei para ir até a janela fumar (lembram? Eu fumo...), comecei a sentir dor na perna esquerda. De imediato pensei que tinha ficado deitada em cima da perna e isso foi feito de mal jeito. Estava me habituando a ficar deitada de lado, pois de barriga para cima, as costas doíam muito por causa das hérnias e da sacroileíte. Terminei de fumar e deitei novamente. Passou-se um tempo, coisa de meia hora, a perna começou a doer de novo. Mas eu não estava deitada para o lado esquerdo. Achei estranho, levantei, fui até o banheiro esvaziar a bolsa e deitei novamente. E nada da dor melhorar. Era uma dor dentro da perna, não parecia dor muscular. Levantei e fui fumar de novo (o cigarro me acalmava). Estava tão saturada de dor, que comecei a ficar chateada. Já não bastavam as dores normais, e tinha mais essa agora? Enquanto estava em pé, na janela, a perna começou a doer mais que antes. Mas mais mesmo! Tanto que não consegui ficar lá e terminar o cigarro. Apaguei no cinzeiro e voltei rápido para a cama. Queria esticar a perna para ver se aliviava. Sentei na cama e estiquei a perna, na tentativa de fazer uma massagem, mesmo sem conseguir me “dobrar” ainda por causa da cirurgia. Quando levei a mão até a perna e olhei, minha perna estava roxa! Escura! E grossa, mais grossa que a outra. E aí o conhecimento do curso de Enfermagem me valeu. Deitei, coloquei uns travesseiros embaixo da perna, cobri com o lençol e chamei por minha mãe. Quando ela chegou, pedi calmamente que ligasse para a médica e dissesse que eu estava com dores na perna esquerda, muito fortes, e que a perna estava escurecendo. Que eu estava desconfiada de uma trombose. Na mesma hora ela foi ao telefone. Pronto, fui voando para o hospital. E desde então, procurava respirar fundo e não ficar pensando. Sabia que quando parasse para raciocinar ia entrar em um processo de inconformação muito grande. Me conheço!

Volto no próximo post detalhando esse relato da trombose...

Bjim!

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3 comentários:

Mariana disse...

Oi.... esse relato foi muito importante flor, obrigada por se abrir assim.... é uma experiência sua que ajuda muito os outros, eu so tenho que te parabenizar por td... por esse trabalho maravilhoso q tem feito, faz tempo q n deixo comentários, mas estou acompanhando ta? Um gde bjo e td de bom!!

Anônimo disse...

Oi Leca,já leio seus relatos a algum tempo,passei por situação muito parecida ,quase na mesma epoca em que vc passou pela sua situação,sou ileostomizada,tenho uma grande hérnia e vou passar por uma cirurgia que passarei de ileo para colostomia e colocarei uma tela e farei uma reparação no abdomem,sempre quiz falar com vc pois não entendo bem toda a cirurgia que vou fazer,também sou portadora da doença de chron e saiba que também é muito dificil tudo isso para mim,apesar de ser alewgre e animada tenho meus momentos de tristeza por viver essa situação,não consigo me acustomar com a palavra deficiente,também passo e passei pelkas mesmas limitações,parabenizo vc por esclarecer para muito s que passam pela mesma situação que a nossa,bjs e parabéns.

Unknown disse...

Ola, meu nome e Vera...
tambem sou ileostomizada... e gratificante poder entrar em contato com alguem q realmente sente algumas das coisas q sinto...queria poder contar com vcs. bjs.