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terça-feira, 23 de setembro de 2008

44- Meu Maior Tesouro

Olás! Começo relembrando aqui que o blog funciona como um livro. Cada postagem é um capítulo, por isso coloco numeração. Deve ser lido na ordem. E como descrevo sempre, estou relatando minha experiência com a Doença de Crohn, desde o ano 2000 quando ela surgiu em minha vida. E no relato estou no ano de 2006, ou seja, o que estou relatando hoje, na postagem 44, aconteceu em fins de 2006. Atualmente (out/2008) as coisas estão bem diferentes já.


Continuando o relato anterior, entrei em meu quarto chorando compulsivamente...


Mas meu bebê estava no computador do meu quarto, conversando com uma amiga pela Internet. Como fazia sempre que ficava perto dela, procurei recolher o choro, mas dessa vez foi impossível. Deitei na cama e continuei a chorar. Claro que ela veio ao meu socorro. Esperou eu me acalmar um pouco e tentou saber de mim o que estava acontecendo. Então contei a ela o ocorrido no consultório e o meu desespero em saber que necessitava parar com o cigarro, mas que tinha muito medo. Vou tentar reescrever nosso diálogo, claro que pegando o essencial, pois não vou conseguir lembrar das palavras certas agora, mas a essência ficou marcada para sempre:

- Mãe, olha para mim.

- ...

- Mãe... você quer parar de fumar?

- Quero muito, mas tenho medo do “depois”...

- Como assim, mãe?

- (em prantos...) Tenho medo de conseguir parar e, na hora em que eu realmente precisar dele e eu não encontrá-lo à minha disposição, eu não saber o que fazer e perder a razão.

- E se você parar de fumar e quando sentir necessidade dele, ao invés de usá-lo, usar a mim?

Naquele momento congelei. Minha filha de 16 anos estava agindo comigo como uma adulta e eu parecia ser a adolescente naquele momento. Mas isso era o de menos. Que espécie de mãe eu era a ponto de sujeitá-la a vivenciar aquilo? Era ela que estava cuidando de mim naquele momento! Mas estava tão desmotivada, sem forças e desanimada, que não tive energia para reagir e chorei mais ainda. Me senti um lixo, como se tivesse cometendo o pior dos pecados...

- Filha, não posso usar você. Primeiro isso não é justo por você ser minha filha, e depois porque não é certo usar as pessoas para descarregarmos nossos problemas. Não farei isso, em sã consciência, com você.

- Mãe, você quer mesmo parar de fumar?

- Quero! (e chorando...)

- Então só tem um jeito: parando. E tem que ser de uma vez só. Não acredito que vício a gente vai largando aos poucos. Você topa?

- ...

- Mãe?

- O que você sugere?

Ela pegou uma sacola de plástico, me entregou e disse:

- Coloca aqui dentro todos os seus cigarros e tudo relacionado a eles também.

Obedeci. No final, a sacola tinha 3 maços de cigarro, 2 isqueiros, 2 cigarreiras, 1 cinzeiro. Ela pegou a sacola, amarrou e me disse:

- Agora você fica aqui que vou levar até o lixo, tá?

- Tá bom. Eu espero.

Ela demorou uns 10 minutos.

- Pronto. Demorei porque fui levar até o lixo da garagem, para que você não ficasse com vontade de atacar o lixo daqui, de madrugada. E antes que você pense que pode perfeitamente ir até o lixo da garagem para pegar um cigarro, eu molhei tudo que tinha dentro da sacola e amassei bem. Ta tudo destruído.

- ...

- Se acontecer de você não conseguir dormir, querer ou precisar muito de fumar, vá até meu quarto, me acorde que venho te fazer companhia. Desse jeito tenho certeza de que você vai conseguir.

E assim aconteceu. No dia 18 de setembro de 2006, parei de fumar após 20 anos ininterruptos com esse vício. E graças à minha filha.


Não tenho vergonha de contar esse meu momento de fraqueza, pelo contrário. Tenho orgulho da atitude dela para comigo, atitude de amiga, atitude madura. Nunca esquecerei esse dia e a firmeza de caráter dela. Minha filha linda, obrigada!

Refiz alguns exames de sangue e minha hemoglobina estava baixa (11 g/dL) e meus linfócitos também.

Na semana seguinte voltei ao consultório para a médica ver a ferida e marcar a biópsia. Não houve regressão e marcamos a biópsia para o dia 02 de outubro. Contei a ela que havia parado de fumar e ela deu um largo sorriso. Ficou muito feliz, mas achei que ficaria mais. Acho que uma semana sem fumar não significa muita coisa. Contei para outras pessoas também, mas não senti ninguém muito empolgado com a notícia, só eu mesma e minha filha. Apenas depois de um mês que as pessoas realmente começariam a me dar credibilidade. Mas aí, já não precisei mais. Busquei apoio em mim mesma e consegui. Depois daquela noite com meu bebê me “salvando”, não coloquei mais cigarro na boca. E assim terminei o mês de setembro. Um mês de conquistas, descobertas e acontecimentos marcantes.

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7 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Nah... eu non acho que tenha feito algo tão extraordinário assim, mas eu sei que foi uito importante pra você. E pode ter certeza ninguém ficou mais orgulhosa de você do que eu.
Sabe pq? Pq pra mim você conseguiu parar sozinha, porque você quis, e se você quiser muito alguma coisa que só depende de você, você vai conseguir. Não havia nada te impedindo de fumar se até mesmo a sua vontade estava contra isso.
E o meu orgulho não foi porque você simplesmente conseguiu mama, foi porque você quis conseguir XD
A maioria das coisas que devemos mudar em nós mesmos não mudamos porque não queremos~
~é bem fácil errar, muito fácil também saber que está errado.
Mas querer que fique certo é bem difícil. É o primeiro passo para conseguir. E você deu esse passo, por isso eu me orgulho.
Porque quem não consegue mudar algo dentro de si é porque na verdade, bem no fundo do coração, não quer mesmo mudar.
E quando você me disse que queria parar, eu acreditei em você, acho que mais até que você mesma.
E mama... eu não molhei os cigarros e foi você que sugeriu que eu jogasse fora na garagem, pra mim isso não era necessário porque eu sabia que uma vez decidida você não ia procurar mais.
Um kissu *3*~

Mariana disse...

Linda a convivência de vcs!!! Bjos

Anônimo disse...

Adorei essa passagem.

Sempre me falo que Deus nunca nos dá um fardo mais pesado do que podermos carregar.

Anônimo disse...

Meu Pai conseguiu parar de um dia pra outro também por problemas de saúde... Parabéns pela força de vontade!!!
Bjus

Anônimo disse...

...achei linda a sua história.A minha foi um diferente...eu fumava bastante mas quando fiquei grávida tive medo e nunca mais coloquei o cigarro na boca. Isso foi tem muito tempo...já estou com 61 e minha filha com 25.

bj para as duas

Anônimo disse...

Todas as vezes que fico preocupada com um de meus filhos longe de mim, volto a ler essa postagem. Ela me "sacode", me traz de volta à realidade: vocês cresceram, vocês amadureceram. E vocês são fantásticos! E a nossa Ludi é LINDAAAAA!!!!!